quarta-feira, outubro 19, 2011

Divórcio


Acordei decidida a fazer as pazes comigo. Merecia me apegar à coisa mais importante na minha vida - eu mesma. No espelho, uma menina de cabelos insuportavelmente médios (enormes, se você cortou faz quinze dias) sorriu pra mim, no auge dos seus olhos inchados, cansados e atrasados. 

"Vamos mudar de ânimo", ela me disse. "O dia está frio, do jeito que você gosta"

Um paralelo com temperatura ambiente, você sabe? Média com o seu coração. Essa depreciação não pode ser normal, não tem nada a ver com o que você quer pra você. Meu espelho queria estar certo. E quando foi que esses discursos motivacionistas me comoveram? Uns tapas na cara surtem mais efeito de impacto sobre mim. Justo eu que já estava abalada (puf)... 

Então a lógica dessa loucura (tem lógica na loucura?) é que se você quer fazer as pazes, você se importa, você quer se sentir bem com o que você tem. Fez sentido? Claro que não! Eu converso com meu espelho todos os dias, logicamente não estou aqui para fazer sentido. Não estou aqui sequer pra ser lida. 

"Sweetheart, você quer fazer as pazes comigo? Não temos o dia todo, estamos atrasadas, vamos pegar trânsito e uma porção de gente precisa de você". Eu quero fazer as pazes comigo? 

Então cá vai minha alforria de mim mesma. Estou me divorciando dessa nova velha Jessica que chora por tudo e por nada. Que confunde nada com tudo. Nada é nada. Tudo é tudo. Essa daí não é você, que não faz as unhas, que sorri falsamente, que atura quem não gosta. Ninguém te modificou assim, se quem te rasgou criou um monstro, empurra ele pra debaixo da cama: ela tem gavetas, ele vai ficar encolhidinho. Você não ouve Coldplay, você não tenta se consertar, você não precisa desses vícios sujos. Você é essa das emoções embaralhadas, definitivamente mais magra. 

Estou me divorciando de mim mesma. E voltando pra mim. Pro eterno paradoxo que sou eu. 
Não tenta me arrumar. 
Eu já nasci embaralhada.