domingo, fevereiro 27, 2011

Não sei lidar com a morte

A pessoa tá lá chorando, se desintegrando, debulhando-se em lágrimas e você nada. Ela fala sobre os momentos finais junto daquela pessoa, o quanto ela estava mal, o quanto aquilo a fere por dentro, ainda sim você nada. Você tenta sentir o mesmo, passar a dor para você, dar conselhos que confortem um pouco o próximo, mas nada do que você faz adianta. Você tenta prestar atenção, tenta ser companheiro, mas você não entende o sofrimento dela. Você não entende qual foi a partida inicial para aquele sentimento. Ela sente dor, ela se sente no inferno, ela quer ir junto com quem partiu. Você continua com um grande nada.

Um grande nada. 

Saber lidar com a morte deve ser  um dom, ou algo mais específico. Se sentir sensibilizado é uma coisa, saber lidar com tudo com o que a morte implica é algo mais além. Todas as reflexões sobre o quanto a vida é curta, sobre aproveitá-la ao máximo, sobre perder alguém, sobre o que acontece depois, sobre o que faremos agora. Ela se foi, como fica a vida? Vai mudar tanto assim? E a sua ficha, ela finalmente caiu? Você nunca mais vai vê-la. Ela está em outro plano, outra dimensão. Tá na terra, tá no ar, virou perfume, virou estrela. Ela só não vai estar mais com você. Nunca mais.

Eu definitivamente não sei lidar com a morte.

José Correia de Aguiar, 1917 - 2011.  Rest in Peace. ♥

domingo, fevereiro 20, 2011

Sobre Castelos.

Engraçado como você costumava ser minha lufada de ar. Como costumava ser o que eu precisava, do jeito que eu precisava. Você era meu último suspiro, minha única certeza. A certeza de que tudo ficaria bem, de que eu ficaria bem. Esse foi o meu erro: exigir de você mais do que você podia suportar. Mais do que nós poderíamos. Eu pedi para você conviver com seus problemas e com os meus problemas e em algum momento nosso castelo desabou.  Do que era feito esse castelo, meu amor? De pedras? De areia? Ou será que ele era um castelo feito de cartas? Como era feito o nosso castelo? Ele terminou de ser construído? Será que ele foi interrompido?

O grande problema, meu amor, é que nunca saberemos as respostas. Eu errei, você errou e nossos erros, nossa sucessão de erros se transformou numa avalanche tão gigantesca que não pode ser contida. Meus erros não justificam os seus, assim como os seus não justificam os meus. Tudo o que eu posso dizer é batemos nossa cota de erros pelo outro e devemos esperar não errar tanto assim com próximo.
Você me deu tudo o que podia e eu digo o mesmo sobre mim.
E o que nos resta é nos resgatar na próxima.

No mais, muito obrigada.