terça-feira, maio 31, 2011

Chico


Olhos dispersos, sorrisos cansados - nem sempre a sensação de dever cumprido. Um olha, outro olha, eles vão chegando. Cansados, pés doendo, quem sabe quanto tempo ficaram em pé? A escada rolante só serve pra atenuar o fardo de descer escadas, subir escadas no meio de tanto cansaço. Eles te fazem pensar, traçar um perfil psicológico pra cada um: isso te afasta de todas as preocupações: provas, trabalho, até quando vai durar o seu emprego. Um a um eles vão chegando. Uma mulher, que manca ligeiramente para a esquerda, num mensagem desesperada de que seu pé precisa descansar do salto alto. Os cabelos já não estão tão arrumados, mas o batom ainda está lá intacto. Será que tem família? Vai voltar para alguém?

O gigante de ferro para. O vermelho anuncia que não é o que você estava esperando. Seus amigos estão em mais uma conversa superficial - ou não - sobre musica boa. Você não pode achar o Chico ruim! Mas ele acha - aí é que você percebe que não dá pra escolher os amigos - não quando a empatia é certa. Pelo menos você vai usar isso contra ele durante o resto da amizade: "Você não gosta do Chico. Não fale comigo" - Roda moinho, roda pião, o tempo rodou num instante...

Ele chega - você se despede com um sorriso, um grito pro playboy do flamengo - dá dinheiro, não dá intimidade. As estações vão passando, as trivialidades sendo jogadas, chegou a central - um lugar! Você ainda pensa em ceder seu lugar àquela mulher, com cara de mãe, mancada para a esquerda batom intacto. Seu egoísmo é maior. É o jeito que é só seu, no final de contas.

Ela já te enlouquecendo, o grupo que você não gosta entrou em São Cristovão, as estações passando, Del Castilho logo estava ali. Pessoas com fones de ouvidos, abafando seus pensamentos, abafando os pensamentos dos outros, que em algum momento se tornam tão altos - ou será que eu virei telepata?

Entre os muros cinzentos passam estradas, shoppings, as luzes das favelas como estrelas cadentes: faça um pedido. Ir para a zona sul, na próxima vez? Passam as últimas estações, lá está você. Então chega o Engenheiro - você está no lugar certo. Seu último pensamento: "Como ele  pode não gostar  do Chico?"

A Marieta manda um beijo para os seus,
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças,
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal,
Adeus!  

segunda-feira, maio 30, 2011

Neurose

Você sorriu pra mim, eu sorri pra você, então estávamos bem. Bem, eu disse, mas a gente tem essa maldita mania se superestimar a felicidade. Eu não posso dizer se é um estado transitório, eu só posso falar por essa euforia chata que eu sinto no estômago. É alguma mistura estranha de todos os bichos que voam - e é exatamente assim que eu me sinto. Eu não te amo, eu não te amo, eu não te amo. Eu passei a repetir isso e no fim eu me convenci. Afinal o que é o amor? Afinal o que são as rosas? Que besteira, o poeta me disse que as rosas não falam. Não era amor e pronto. Amor é outra coisa - que se fosse boa não doía. E acredite em mim: dói.

Eu acabei descobrindo que você é meu desafio, minha vontade de provar que, damn, eu estava certa mais uma vez. Nesse caso eu gostei de estar certa, das outras vezes eu só quebrei a cara. E agora você me quer, e quer, e faz questão de me dizer em todas as oportunidades. "Eu quero você". A minha lição é não me subestimar no final das contas, porque querer é bem longe de amar. Em algum momento eu achei que as águias de rapina, borboletas e pterodáctilos no meu estômago estavam querendo me passar um recado - no fim era só mal estar, dor de barriga.

E eu nessa coisa sem fim de querer te decifrar, me decifrar e pensar em você o tempo todo - ou entre os primeiros vinte e quatro minutos de cada hora - só pra criar aquela alusão ilusão de que você está fazendo aquilo também, e e veja: você está. 
Eu não estou mais.
Não era amor...
Era neurose